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Pensamentos aleatórios

2 de janeiro de 2014

A fabulosa história do prefeito cassado e seu triunfal retorno para salvar a cidade do apocalipse


Era uma vez uma bela e progressista cidade do sudeste goiano. Nessa cidade, assim como a maioria, existia um prefeito que foi democraticamente eleito pela maioria dos votos e  era amado pela população, pois ele vinha fazendo a melhor gestão de toda a história dessa cidade. Um belo dia (talvez não tão belo, afinal), o prefeito foi, injustamente, cassado. Cassado pelo simples fato de durante a campanha eleitoral, quase um ano antes, o Governador do Estado, seu aliado político, ter declarado a uma rádio da cidade que se morasse ali votaria no seu aliado - um motivo muito fútil para cassar o mandato de alguém. E além de cassado por um motivo fútil a decisão de cassação partiu de um magistrado substituto que não tem qualquer responsabilidade ou vinculo com essa cidade e, o pior, tudo indica que sua decisão foi comprada pelos adversários políticos do prefeito, haja vista as relações cordiais que tal magistrado tem com familiares do Presidente da Câmara. Esse mesmo Presidente, ferrenho adversário político do amado prefeito,  assumiu interinamente a prefeitura e aproveitou para se vingar da população. Durante 24 horas jogou a bela e progressista cidade em um abismo de caos e ingerência administrativa: demitiu servidores comissionados; suspendeu o pagamento dos efetivos; determinou a paralisação de atendimentos básicos na rede de saúde e assistência social; provocou danos ao patrimônio público; permitiu que seus asseclas furtassem cestas básicas e outros objetos das diversas secretarias da prefeitura; suspendeu o abastecimento de água em vários bairros; prejudicou o comércio com a suspensão dos pagamentos e quase acabou com o Natal da cidade ao demitir o Papai Noel... enfim, o vingativo Presidente aproveitou cada minuto de seu mandato comprado para fazer a cidade sofrer. Tal sofrimento só terminou com o restabelecimento da vontade popular, ao ser concedida uma liminar reconduzindo o prefeito afastado a seu cargo de direito. A cidade voltou a normalidade e na sequência o prefeito reconduzido determinou a apuração de responsabilidades e a publicização dos crimes cometidos durante as 24 horas de terror. Ao final, o Presidente da Câmara saiu manchado do episódio, seu partido mais enterrado do que já estava e o prefeito reconduzido navega agora em alta popularidade com a população, que rejeitou o golpe aplicado. Todos viveram felizes para sempre e comemoraram a vitória com um tradicional e apreciado foguetório. Fim da história.


Só que não!

Esta é a versão que está sendo repetida e reproduzida maciçamente desde o dia 20 de dezembro para contar o que aconteceu em Catalão entre as 16:30h do dia 19 de dezembro, quando toda a cidade foi surpreendida pela cassação do prefeito Jardel Sebba por decisão proferida pelo juiz Everton Pereira Santos; e as 15:45h do dia 20, quando o prefeito foi reconduzido ao cargo por liminar emitida pelo juiz Antenor Eustáquio Borges. 

O que a historinha não conta é que a decisão de cassar o mandato do prefeito não se deu de uma hora para outra, nem é completamente descabida, embora seja dura. O processo tramitava desde outubro de 2012 e o magistrado se embasou na Lei Eleitoral (inciso 15, do artigo 22, da Lei Complementar número 64/90) e enquadrou o ato praticado pela rádio Sucesso como Boca de Urna, afinal o que ocorreu foi uma ampla e tendenciosa cobertura das eleições com o objetivo claro de influenciar o eleitorado catalano e não apenas uma "declaraçãozinha inocente" do Governador. É verdade que essa cobertura tendenciosa não fez nenhuma diferença no resultado da eleição (que já estava definido), mas assim como a Portuguesa foi punida por infringir o regulamento do Campeonato Brasileiro, ao escalar um jogador suspenso (que não fez diferença nenhuma no resultado do jogo), também a coligação de Jardel foi punida por infringir as regras do jogo eleitoral, pois é proibida a boca de urna, fazendo diferença ou não, simples assim.

Outra coisa que a historinha ignora é que a gestão estava mal avaliada no final do primeiro ano de mandato: promessas não cumpridas com correligionários; omissão em relação ao transporte coletivo; falta de remédios nas farmácias populares; briga com o vice-prefeito; buracos nas ruas; limpeza urbana precária na maioria dos bairros; mato alto; secretários investigados pelo Ministério Público de Minas Gerais; e problemas no abastecimento de água (situação agravada nos últimos dias cinco dias quando quase toda a cidade sofreu com esse problema). O prefeito da renovação chegava ao final do primeiro ano de mandato com a avaliação pior do que a do Velomar, mesmo com os shows e as parcerias com o Governo do Estado. Algo precisava ser feito para salvar a imagem da gestão, mas o quê e em tão curto espaço de tempo? Mas o destino é caprichoso, e os inteligentes conseguem fazer dos limões dados pela vida a melhor das limonadas, e assim a cassação, algo extremamente preocupante, tornou-se o factoide político do ano em Catalão.


Pesquisa do Portal Catalão: 75%, de 3.603 pessoas que participaram, reprovam a gestão de Jardel

De vilões os tucanos passariam a vítimas. No curto intervalo de tempo em que o prefeito ficaria afastado seria substituído pelo Presidente da Câmara Municipal, Deusmar Barbosa. Deusmar não teria tempo de mostrar serviço e não conseguiria conter os ímpetos da militância PMDBista, que aproveitaria cada segundo das 24 horas da interinidade para promover a maior balbúrdia jamais testemunhada pela cidade. Os cartazes de suspensão dos atendimentos já estavam prontos no dia anterior, assim como a ordem para não permitir o pagamento dos servidores municipais e do fechamento do Materno Infantil e do Restaurante Popular, mais do que o suficiente para criar o caos e ter do que culpar Deusmar. O bônus veio com a demissão sumária dos comissionados e com a distribuição discriminada de cestas básicas, amplamente registrada e divulgada nos blogs e perfis do Facebook ligados ao Governo da Parceria. No dia seguinte, exatamente às 15:45h, Jardel voltaria à Prefeitura carregado nos braços do povo, o mesmo povo que sofreu horrores nas 24 horas de Deusmar e que agora ficaria uma semana (ou a ano de 2014 inteiro) sendo informado do que os PMDBistas aprontaram na Prefeitura. A nota oficial divulgando o prejuízo de mais de 200 mil reais ao erário público com o roubo de cestas básicas, fraldas geriátricas, remédios, pneus, combustíveis, tintas para sinalização e outros bens públicos pronta rapidamente e foi o assunto da semana. Assim o povo esqueceria os equívocos do primeiro ano de mandato e mais uma vez daria um voto de confiança e mais um prazo para o prefeito reconduzido arrumar a casa, mais uma vez bagunçada pelos inimigos do povo.




Deusmar e os cartazes  no em Santo Antônio do Rio Verde, prontos já no dia 19/12 (quem  os afixou?)
Jardel, retornando à Prefeitura no dia 20/12
Tudo é uma enorme teoria da conspiração, mas que os tucanos aproveitaram para explorar cada fato negativo desse episódio é inegável. Até protocolar o recurso no prazo certo para que a liminar saísse às 15:45h do dia 20 foi feito. Do limão dado pelo destino foi feito uma limonada suíça, uma caipirinha, um mojito e um daiquiri, além de sobrar uma fatia para tomar uma tequila com sal. Para os tucanos o ano não poderia terminar de melhor forma.

É claro que não é bem assim.

A gestão recebeu uma breve folga das avaliações negativas, mas elas continuam aí não adianta negar. Os problemas na SAE e os buracos do asfalto não são perdoados pela população, assim como as parcerias com o Governo do Estado que não deslancham, as constantes quedas de energia e a falta de médico legista no IML (ausências do parceiro) agravam ainda mais a situação. E o episódio não arranhou em nada a imagem de Deusmar: quem não gostava dele continua não gostando e quem gosta não se importou com a distribuição indiscriminada de cestas básicas ou as acusações de troca de pneus e furto de gasolina ou outros bens públicos. Já a parte da população que não é partidária vê com ceticismo o relatório dos prejuízos encaminhado ao Ministério Público, não no sentido de não ter ocorrido o relatado ali, mas sim do efeito prático da responsabilização dos culpados, pois um relatório parecido foi feito no início da gestão (e outro quando o Rodrigão foi demitido) e até hoje ninguém foi punido pelos prejuízos constatados (e nem será).

A moral da história é que mais uma vez os catalanos iniciam o ano com receio. Receio do prefeito vir a ser cassado definitivamente, receio de uma nova eleição, receio de brigas e mortes por causa de política e receio do futuro próximo, pois o episódio foi a prova definitiva que os dois grupo que disputam o poder em nossa cidade só se preocupam com isso mesmo: poder. Não importa quantos sejam atingidos nessa disputa e do que for preciso fazer para vence-la.

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