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Pensamentos aleatórios

2 de março de 2015

O dia em que o estupro virou uma coisa banal e o povo bateu palmas


"Quero te dar um pega. Ela não falou nada, aí eu falei VOU PEGAR. Botei a mãe de santo de quatro, arriei a saia da mãe de santo e segurei ela pela nuca [...]. Tô sapecando a mãe de santo e ela 'pa... para' [...]. Cara, eu fiz tanta pressão na nuca dela que ela DORMIU". Finaliza aos aplausos e risos da platéia composta, também, por mulheres.

Assim Alexandre Frota descreve uma suposta aventura sexual, supostamente engraçada, com uma mãe de santo que lhe atendia. Uma "aventura" que não contou com qualquer consentimento - muito pelo contrário, houve um pedido para que parasse -, e que dependeu de imobilização física para que ocorresse. As cenas foram ao ar, originalmente, em maio do ano passado, e foram reprisadas na semana passada pela Band, sem que ninguém da emissora percebesse o que foi dito ali. A declaração, aparentemente, passou batida por todo este tempo.

Algumas pessoas talvez não entendam, mas isto não é uma aventura sexual. Isto é um ESTUPRO, com todas as letras, e que talvez só tenha sido contado agora porque o crime já tenha prescrito. Nem a plateia, em êxtase, nem o apresentador, questionaram em qualquer momento sobre a coação imposta antes e durante o ato, e até mesmo o fato de, em momento algum, aquela mulher ter concordado com o ato sexual.

Talvez aquela plateia pensasse que, se ela não gritou e lutou contra ele, é porque ela queria aquilo tudo. E se queria, ele apenas realizou a fantasia sexual de ambos. É isto que o machismo diário, aquele que nos é apresentado ainda na infância e que tenta nos influenciar por toda a vida, nos induz a pensar. Afinal, a culpa é sempre da vítima: ou porque tinha um "bundão", como disse Frota, ou porque não lutou contra aquele estupro. A mesma lógica não vale quando, por exemplo, uma pessoa é assaltada e não reage; neste caso, ela não deu seus pertences voluntariamente ao ladrão, ela foi assaltada.

E, para coroar o show de horrores, um "ô filha da puta, levanta aí", já que, além da agressão física e sexual, ela ainda precisava se levantar e mostrar às amigas de Frota, que estavam do lado de fora, que tudo estava bem. Não, não estava, Frota. Ainda que esta história seja mentira, contada apenas para entreter, ele a contou. Apresentou um estupro como algo banal, o sexo não-consensual como algo plenamente aceitável, fez pouco do povo de santo e dos demais adeptos de religiões de matriz africana e foi apoiado e aplaudido por tudo isto.

E não, não há nada engraçado em um crime tipificado no artigo 213 do Código Penal, com pena de reclusão de seis a dez anos.


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