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Pensamentos aleatórios

1 de março de 2015

O juiz, o caminhoneiro e os cônjuges


Texto de Cileide Alves, publicado hoje, 1º de março, em O Popular, muito pertinente sobre acontecimentos de repercussão nacional nesta semana:

O juiz, o caminhoneiro e os cônjuges

O que há em comum entre o juiz Flávio Roberto de Souza, o impasse entre os caminhoneiros e o governo federal para pôr fim ao bloqueio das estradas, e a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), de permitir aos cônjuges dos parlamentares viajarem com passagens aéreas pagas com dinheiro público?

Na quarta-feira, o governo reuniu-se com o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Deléo Cunha Bueno, para negociar um acordo para acabar com os bloqueios das estradas. Estava em Brasília o motorista Ivar Luiz Schmidt, que se apresenta como líder do movimento que parou o Brasil na semana passada.

O governo nem deixou Schmidt entrar na reunião. Negociou com Diumar, apesar de este ter reconhecido que o bloqueio não foi “orquestrado” pelas entidades a ele vinculadas. Ainda assim, governo e federação se acertaram e anunciaram o fim dos bloqueios. No mesmo dia Ivar Schmidt postou em sua página no Facebook: “Meus amigos e amigas quero informar que esse governo sacana chamaram (sic) os sindicatos pelegos que são do PT e ‘fizeram’ uma reunião (...). O movimento continua”.

E continuou, porque o governo foi incapaz de perceber que o sindicalismo não tem a força de outras épocas e desconheceu como nasceu este protesto dos caminhoneiros. Ivar Schmidt contou à imprensa ter montado um grupo no WhatsApp com 100 caminhoneiros espalhados por todo o País e que esse grupo liderou e organizou o bloqueio das estradas.

Os casos do juiz Flávio Roberto de Souza que achou “absolutamente normal” trafegar com a Porsche do empresário Eike Batista e do vale-viagem para os cônjuges de parlamentares são também muito ilustrativos. O juiz Flávio Roberto, punido com seu afastamento do processo, nem pensou duas vezes em andar no carro de luxo, que ele próprio mandou apreender, pois se considera detentor de um poder natural que lhe permite fazer o que quiser. A mesma motivação levou o presidente da Câmara a autorizar o vale-viagem para os cônjuges de seus colegas.

O governo, o juiz e o presidente da Câmara erraram. O governo foi usar a força para acabar com os bloqueios e os dois últimos caíram na boca do povo.

Os três fatos revelam a resistência de castas políticas e sociais de enxergarem que o modo de vida da sociedade deste início de século 21 é de outra ordem. A autoridade natural antes emanada por grupos que exercem algum tipo de poder esfacelou-se em um mundo onde as relações são horizontais.

Na época das relações verticais era inimaginável um juiz virar piada pública. Hoje as piadas não apenas foram feitas como publicadas, porque o ser humano se vê livre das colagens impostas pelo mundo antigo e exige regras iguais. Não há mais os intocáveis.
Vale demais para as autoridades atualmente constituídas no município de Catalão: é preciso respeitar o cidadão! 

Quem debocha do povo recebe de volta o dobro do deboche, acrescido de raiva e desprezo. O "beijamão" há muito tempo saiu de moda.

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